Um geólogo explica a atividade atual do vulcão chileno Puyehue e os riscos que ela traz para os voos no Brasil
A foto da Nasa mostra que a nuvem de cinzas expelida pelo vulcão Puyehue atravessou a Argentina e chegou ao Atlântico
São Paulo – Como as cinzas do vulcão chileno Puyehue afetam a segurança dos aeroportos? Por que a grande nuvem expelida se espalhou dessa forma? Podem os vulcões afetar a temperatura global? As dúvidas começaram a surgir no dia 4 de junho quando, após mais de 50 anos dormente, o Puyehue decidiu despertar, abrindo uma fissura que expeliu uma grande torre de fuligem e cinzas repletas de gases como dióxido sulfúrico.
“Esse vulcão produziu uma coluna de altura excepcional, com 12 mil metros, e a fumaça tem um perímetro de 65 km”, explica o professor de geologia João Wagner de Alencar Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “O problema no Chile é similar àquele visto na Islândia no ano passado. Quando atingem o sistema atmosférico, as cinzas podem viajar milhares de quilômetros, comprometendo os voos e a operação dos aeroportos e causando muito prejuízos”, diz Castro, que é especialista em mudanças globais e esteve em 2010 na Islândia para avaliar os estragos do Eyjafjallajokull.
O problema e como ele se espalha
Localizado no complexo conhecido como Puyehue-Cordón Caulle, na Cordilheira dos Andes, 600 km ao sul da capital Santiago, o vulcão liberou tanto material que cidades na Argentina foram afetadas. Alguns locais na fronteira dos dois países registraram uma camada de cinzas de mais de 30 cm. “O vulcão está na mesma latitude de Bariloche”, explica Castro.
“Eu acredito que essas frentes frias vindas do polo sul, tão comuns neste período, tenham contribuído para a dispersão das cinzas vulcânicas sobre o território argentino. Estações de esqui em lugares como Bariloche, La Angostura e San Martin estão todas com terríveis problemas. Esses mesmos ventos fortes carregam as nuvens para o Sul do Brasil, para o Paraguai e para a Bolívia. Graças a eles, o Chile foi menos afetado pelas cinzas”. A Agência Espacial Europeia corrobora a opinião do professor: ela informa que a região da Cordilheira na qual está localizado o vulcão é conhecida por seus fortes ventos vindos do oeste.
Perigo para aviões e pessoas
Na manhã de hoje, aeroportos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e outros estados tiveram de cancelar voos. A preocupação das autoridades em impedir a decolagem de aeronaves faz sentido, pois o principal problema da erupção não está relacionado à visibilidade: “As partículas produzem uma espécie de sílica, que pode entrar nas turbinas dos aviões e danificar seus componentes”, explica o professor.
Os danos não ficam restritos à aviação. Ao entrar no sistema atmosférico, as cinzas geram impacto ambiental e afetam a saúde das pessoas. “O vulcão expele uma série de gases. A população próxima deve usar máscaras para se proteger”, explica Castro. “Além disso, temos o impacto econômico. Na Islândia, o vulcão do ano passado provocou um prejuízo de 3 bilhões de dólares para as companhias aéreas”, diz. O professor afirma que os cálculos para o vulcão chileno ainda não forma feitos. mas diz que o prejuízo deve ser bem menor por aqui.
Aquecimento global
Outro grande impacto potencial dos vulcões é na temperatura global. Eles não aquecem o planeta, mas podem resfria-lo, como explica o professor Castro. “Uma grande concentração de manifestações vulcânicas provoca o resfriamento global. Isso acontece porque, se uma grande nuvem de cinzas for para a atmosfera, ela impedirá a passagem dos raios solares – e a temperatura vai cair”, diz. Isso já aconteceu, por exemplo, após as erupção do monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991.
Vulcões no Brasil?
Em relação a vulcões, os brasileiros podem se considerar sortudos. O país está numa zona chamada de intraplaca e todos os seus vulcões estão extintos. “As últimas manifestações foram há 12 mil anos”, assegura Castro. Já o Chile não está em tão bons lençóis. O país fica numa zona de limite de placas tectônicas, as regiões de encontro das diferentes partes que compõem a crosta do nosso planeta. “Todas essas áreas de limites de placas tectônicas têm a possibilidade de ocorrência de erupções vulcânicas e terremotos”, explica o professor.
É nessas regiões que o movimento das placas facilita a saída do conteúdo interno do nosso planeta, a camada magmática, para a litosfera, a camada superficial. “Nessas zonas limites existe uma falha que, aliada à pressão exercida do interior da Terra e às altas temperaturas, causa a erupção”.
Benefícios
Apesar de parecerem assustadoras, as erupções vulcânicas não trazem somente destruição. Ao mesmo tempo em que acaba com plantações e cidades, a lava incandescente constrói parte do planeta. “Sabia que 95% das ilhas oceânicas têm origem vulcânica? Elas são feitas de rochas magmáticas – o material expelido pelos vulcões”, diz o professor. Portanto, agradeça aos vulcões se suas próximas férias forem no Havaí ou em Fernando de Noronha. Isso é, se os vulcões permitirem que você decole para voar até lá.